Lá Vem a Nau Catrineta (74)

Julho 3, 2006


Lá Vem a Nau Catrineta
que tem muito que contar
esta Nau, diz o poeta
El-Rei a mandou armar
De Rosa a fez zarpar
para uma nova demanda
é D. José quem comanda
a barquinha em alto-mar
Dessa odisseia sem par
de loucos navegadores
ouvi agora senhores
outra história de pasmar

Estava doida a Catrineta
ouvia-se em todo o lado:
Figo, Ronaldo e Pauleta
são o trio abençoado
Mágigo Deco ladeado
p’lo Costinha e o Maniche
é o meio-campo mais fixe
que pode ser encontrado
quanto ao quarteto atrasado
Carvalho, Miguel e Meira
o Nuno, e na capoeira
o Ricardo mal-amado

Do Capitão aos grumetes
a histeria era geral
nos beliches, nas retretes
nos baús ou no estendal
a bandeira nacional
galhardetes e cachecóis
incitavam os heróis
da nobre barca real
p’rá peleja triunfal
nas frias águas arianas
iam ser quatro semanas
de uma loucura total

Assim que chegou a’ltura
foram mar fora voando
os eleitos p’rá’ventura
com o coração palpitando
e a barca inteira berrando
vermelho e verde vestida
numa linda despedida
com lencinhos acenado
e muita gente rezando
à virgem do Caravagio
Senhora de bom presságio
que nos fazia ir ganhando

Assim que ao longe sumiu
o escaler da nossa fé
logo de pronto se ouviu
o Capitão D. José:
“Vamos embora ó ralé
agora toca a mexer
porque há muito p’ra fazer
desde a popa até à ré
já chega de pontapé
no cautchú insuflado
vira o disco e muda o fado
toca a andar e a dar ao pé”

“Eu gostava de entender
o que é que lhes vai na tola
não consigo perceber
cérebros de tal bitola”
e se há coisa que me amola
são miolos de galinha!…
Olhai uma e outra alminha…
cada qual a mais estarola!
Um jogo de mata-esfola
estúpido, estão a ver?…
vinte tipos a correr
louquinhos atrás da bola!?…”

“Mas…ó Pacheco Pereira
você que é inteligente
não tente cair na asneira
de fazer ver a essa gente
que está senil ou demente
por gostar de futebol
e de bandeira e cachecol
vibrar efusivamente
é saudável, este aparente
manifesto tresloucado
mantém um tipo equilibrado
um escape, evidentemente”

“Qual escape, qual carapuça
está tudo doido varrido
pintam cabelo e a fuça
verde e vermelho garrido
choram, riem sem sentido
guincham que nem chimpanzés
dão estalos e pontapés
num qualquer outro indivíduo
se este vier colorido
com as cores do adversário
um porte mais ordinário
nem na selva, entendido?”

D. Pacheco e D. Coelho
lá seguiram conversando
p’rá reunião de conselho
de oficiais de comando
com o grosso se encaminhando
p’ró amplo salão citado
D. José de braço dado
com D. Diogo explicando
porque é que queria ir andando
reforma de vez meter
tinha as costas a doer
e não estava aguentando

E os dias foram passando
até que a hora chegou
a chincha estava rolando
toda a ralé exultou
e a tal febre se apossou
da gente da Catrineta
quando a passe do Pauleta
a primeira bola entrou
desde o netinho ao avô
toda a malta extasiada
Angola estava passada
venha o Irão, se gritou

“Os talibãs do Sadam
também vão levar p’rá’ssar
nem o Mulla ou o Imã
de nós os podem livrar”
Com a ralé a gritar
“Chuta Deco, chuta agora…
Goooolloooo!!!… já lá mora
O irão já foi a andar
com o México a papar
mais duas no galinheiro
a malta estava em primeiro
isto era sempre a aviar

Nos oitavos de final
quem nos iria ir tocar?
a Holanda?… não faz mal
essa também vai marchar
Pauleta de calcanhar
com toque soberbo e fixe
rapa do pé o Maniche
está lá dentro, vai buscar
ó gigante Van Der Sar…
Gooolllooo!!! de Portugal!!!
esta laranja afinal
foi fácil de descascar

E agora os ingleses
para os quartos de final
olhavam os portugueses
com a’rrogância habitual
aquele puto foi fatal
já pródigo em disparates
ousou pisar os tomates
do nosso tuga central
coitado, saiu-se mal
o depravado fedelho
levou com o cartão vermelho
onze a dez p’ra Portugal

Mesmo apesar do talento
ninguém conseguiu marcar
seguiu-se o prolongamento
só mesmo p’rós irritar
e aí é que foi gozar
com os bifes, minha mãe
eles lembravam-se bem
do Ricardo a descalçar
as luvas e a segurar
o penalty inglês
e viram mais uma vez
mas desta a triplicar

Foi a loucura total
a bordo da Nau, senhores
a gritaria era tal
que eu garanto sem favores
se ouvia até nos Açores
e na ilha da Madeira
mas que desfeita à maneira
tinham feito estes amores
estes putos, estas flores
aos arrogantes ingleses
aí bravos portugueses
que vivam as nossas cores

D. José, o Capitão
com o estado maior ao lado
desligava a televisão
com um ar preocupado
“Ó Coelho, estás informado
se o treinador Filipão
já tem, ou ainda não
novo contrato assinado?…”
“…?!!!…………”
“… Telefona lá ao danado
do Madail, esse pavão
quero saber se já estão
com o negócio fechado”

“Fazeis vós bem D. José
em saber já disso agora
não ouvis vós a ralé
como dá vivas aí fora
ao treinador nesta hora?”
“Corremos um grande perigo
bom Coelho, meu amigo
se ele ainda se demora”
“Se não quiser ir embora…”
por sorte fôr campeão
fazem dele Capitão
e quanto a mim… borda-fora!!!”

Fale aí em baixo ou cale-se para sempre